19ª edição do Fórum de Líderes do Varejo e Indústria de Material de Construção traz economista Pedro Malan
29/3/2021
Nova Lei do Gás, agenda de reformas, premissas para a retomada do crescimento, vacinação e ensino foram os principais temas tratados.
Realizou-se em 22 de março, de modo virtual, a 19ª edição do Fórum de Líderes do Varejo e Indústria de Material de Construção, integrante da Expo Revestir e do Fórum Internacional de Arquitetura, Design e Construção. A programação, apresentada pela jornalista Millena Machado, foi aberta por Manfredo Gouvêa Júnior, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), promotora dos eventos.
“Estamos vivendo um momento histórico de gravidade ímpar, no enfrentamento da Covid-19. Porém, a realização da Expo Revestir, por meio 100% online, neste período tão atípico é um exemplo de que é possível transpor fronteiras, por meio da resiliência, força de superação e inovação tecnológica”, salientou Manfredo, acrescentando: “Nosso eventos reafirmam o compromisso do setor de continuar conectando e encantando nosso público com lançamentos, tendências e conteúdos importantes na área da construção e no segmento cerâmico”.
Beth Bridi, diretora de redação da Revista Anamaco/Grau 10 Editora, coorganizadora do evento, também falou sobre as dificuldades impostas pela pandemia. Ressaltou, porém, a oportunidade, mesmo num ambiente digital, “de buscar cenários possíveis para os negócios, vislumbrar as perspectivas econômicas e debater as perspectivas atuais e futuras da economia”.
Em seguida, o economista Pedro Malan, ex-presidente do Banco Central e ministro da Fazenda de 1995 a 2002, proferiu sua palestra. Inicialmente, avaliou que, devido ao novo coronavírus, a economia foi submetida a choques de oferta e demanda, levando à perda de milhões de empregos. “A pandemia desnudou desigualdades entre países e dentro deles e seus efeitos perdurarão por bastante tempo”.
No Brasil, a economia caiu 4,1% e o PIB per capita, 4,8%, num retrocesso inédito. “O segundo trimestre foi desastroso, com recuo de 10%”, lembrou o economista, ponderando: “Nossa recuperação dependerá das respostas à pandemia. Algumas nações desenvolvidas e em desenvolvimento agiram rapidamente na compra antecipada de vacinas. Nosso país, infelizmente, atrasou-se nesse processo, que é essencial para dimensionarmos as possibilidades de retomada do crescimento”, alertou.
Malan reiterou que o contexto internacional poderá ajudar o Brasil, fornecedor de produtos com alta demanda, como alimentos e minérios. Citando projeções do mercado, estimou crescimento de 3,2% para o País este ano. “Além da vacinação atrasada, pesam a demora na retomada do auxílio emergencial e dúvidas sobre sua extensão”. Em 2022, a economia nacional deverá avançar 2,4%, com inflação de 3,49%, contra meta de 3,50%. Referindo-se à indústria de cerâmica, disse vislumbrar perspectivas positivas. O Brasil é o terceiro maior produtor, segundo consumidor em termos de volume e sexto maior exportador.
O economista também disse temer o impacto da pandemia na educação, alertando que o setor já apresentava um quadro negativo: na faixa etária de 15 a 17 anos, 38% não estão cursando o Ensino Médio. Apenas 30% dos jovens que terminam essa etapa entram na universidade e a maioria abandona a faculdade até o terceiro ano. “Solucionar esse problema é decisivo para o Brasil superar a armadilha da renda média”. Outras prioridades são as reformas estruturais, como a tributária, bem como atender à transformação irreversível da tecnologia, acelerada pela Covid-19.
Cenários econômicos
Em seguida, realizou-se o painel “Cenários econômicos brasileiros e as perspectivas para o segmento do varejo e da Construção Civil”, mediado por Beth Bridi, presidente da Grau 10 Editora – Revista Anamaco. Os expositores foram os seguintes: Manfredo Gouvêa Júnior; Waldir Abreu, superintendente da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção); José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção); e Rodrigo Navarro, presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria Materiais de Construção).
Manfredo salientou que a nova Lei do Gás (Projeto 4.476/2020), aprovada pelo Congresso Nacional e na iminência de ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, é um avanço expressivo do marco regulatório, não apenas para o setor cerâmico, como para toda a indústria brasileira. “Foi uma construção coletiva, que demandou oito anos de trabalho e mobilização de empresários, especialistas e parlamentares”.
A lei tem particular importância para o segmento da cerâmica, que é um consumidor intensivo de gás natural. “Porém, em nosso país o insumo é muito mais caro do que em outras nações e na média do mercado global, impactando de modo significativo nossa competitividade”, ressaltou Manfredo, explicando: “O combustível representa 30% dos custos da produção do setor”.
Reiterando a importância da nova lei, o presidente do Conselho de Administração da Anfacer alertou, contudo, para a necessidade de se promover, com a maior velocidade possível, sua agenda regulatória em todos os estados brasileiros. Ele acredita que esse processo ainda demorará cerca de dois anos. Somente então será possível perceber as consequências positivas em toda a cadeia produtiva, em outros segmentos industriais e até mesmo no consumo doméstico. “Aprovação da matéria foi o pontapé inicial. Objetivo final é a melhoria da competitividade da indústria. Isso será viabilizado pela redução do preço do insumo, que será uma consequência da abertura do mercado, fim do monopólio e estabelecimento da livre concorrência”, ressaltou.
Manfredo também chamou atenção para a necessidade de vacinação dos brasileiros contra a Covid-19, as reformas estruturais e a melhoria da educação. “Estamos num momento altamente desafiador, no qual temos de demonstrar nossa capacidade de nos reinventar. Há necessidade de se aperfeiçoarem o sistema tributário e a administração pública, para ser possível conter a escalada da inflação e dos juros e recolocar o País no caminho do crescimento”.
O dirigente da Anfacer ponderou, ainda, sobre a necessidade de união dos brasileiros e de todos os setores em torno da meta prioritária de enfrentamento da pandemia de Covid-19, com a vacinação, proteção social e dos mais vulneráveis, preservação da saúde dos trabalhadores e recuperação dos empregos. “Na agenda nacional também é relevante a melhoria do ensino”, observou.
Lições da pandemia
José Carlos Martins, presidente da CBIC, salientou que “o primeiro grande ensinamento da pandemia refere-se à decisão, adotada desde o primeiro momento, em março do ano passado, de que a prioridade é a atenção com os trabalhadores, cuidando deles sem paralisar os canteiros de obras e lojas de materiais de construção”. Destacou, também, a valorização do ambiente do lar e dos produtos brasileiros.
Rodrigo Navarro, presidente da Abramat, apontou que a possibilidade dos eventos e reuniões on-line levou à ampliação do número de interlocutores. Enfatizou, ainda, a rápida capacidade das empresas de refazerem todo o seu planejamento em março do ano passado, quando eclodiu a pandemia. Outra questão fundamental diz respeito à importância da comunicação com a sociedade e o poder público, bem como a união de esforços para enfrentar os problemas.
Waldir Abreu, superintendente da Anamaco, realçou o foco no atendimento das pessoas que ficaram em casa. “A grande lição foi reconhecer que a grande missão dos comerciantes é prestar serviços”. Nesse sentido, o varejo soube como se adaptar à situação e às restrições em cada fase do combate à Covid-19, utilizando todos os meios possíveis, como drive-thru, internet e WhatsApp. A atuação responsável de toda a cadeia produtiva foi igualmente um fator relevante.