NOTÍCIAS

Eternamente Athos Bulcão

Publicado em
14.9.2018

Entrevista com Marília Panitz Silveira

A artista carioca completaria 100 anos em 2018. E para comemorar a data em grande estilo, o CCBB realiza uma retrospectiva imperdível, que vai até o dia 15 de outubro, para quem deseja conhecer o universo de um dos pintores, escultores e azulejista mais importantes da história recente brasileira.

A exposição “100 Anos de Athos Bulcão” revela mais de 300 obras divididas em oito núcleos, que passeiam pelo uso das cores e da poesia e enfatiza a sua íntima relação com a pintura figurativa, o trabalho gráfico e os figurinos que realizou para peças teatrais.

foto: Vicente de Mello

A ANFACER entrevistou Marília Panitz, curadora, que assina o trabalho com André Severo. Professora da Universidade de Brasília, Marília já dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília e, atualmente, trabalha como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições, além de ser crítica de arte e curadora independente.



Já André Severo, com seu vasto currículo foi, em 2012, ao lado de Luis Pérez-Oramas, curador da XXX Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas e publicou o livro Deriva de sentidos. Em 2013, também com o mesmo parceiro, foi responsável pela curadoria da representação brasileira na 55ª Bienal de Veneza.

Juntos eles se debruçaram por um acervo rico em referências e repleto de possibilidades. No pingue-pongue rápido que a ANFACER realizou com a curadora Marília Panitz, a curadora revela detalhes e os bastidores da exposição. Confira!

ANFACER: A exposição está bem rica e apresenta praticamente um raio-x sobre as diversas habilidades de Athos Bulcão: da pintura do início da carreira aos azulejos que o tornaram famoso. Qual o critério de escolha das obras para a exposição diante de tantas possibilidades e um acervo tão vasto? Acredito que motivos não faltaram para dispersões e mudanças de rumo durante o processo.

Marília Panitz: A ideia da curadoria, desde o início do processo, era dar visibilidade à abrangência da obra de Athos que é, sem dúvida, um artista muito conhecido em Brasília. Mas e no País, como seria, já que a exposição seria itinerante por mais outras cidades? Claro que há o seu trabalho de integração entre arte e arquitetura, que tornou-se conhecido tanto pela qualidade e pela inovação, mas especialmente na utilização do azulejo e por suas parcerias - em especial Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima, o Lelé. Mas um artista com uma obra tão diversa e tão coerente precisaria de uma mostra que, a partir do conhecido, apresentasse outros campos nos quais ele se experimentou e a influência que ele exerceu sobre artistas mais jovens que puderam compreender sua proposta. Por outro lado queríamos, de certa forma, "deixar Athos falar" e assim, utilizamos como "partitura" para a exposição, uma grande entrevista que ele deu, quando completou 80 anos, para a jornalista Carmen Morethzon: "O passageiro do silêncio em Brasilia".



foto: Vicente de Mello

ANFACER: O que mais a encanta diante da obra de Bulcão? O que mexe e emociona, levando-se em consideração que obra do artista é vasta e apresenta uma versatilidade e inquietação de Athos em não se concentrar apenas em um produto. Como você avalia essa versatilidade criativa?

Marília Panitz: Penso que o que mais me encanta não é uma obra em particular, mas a articulação que o artista fazia entre os campos que explorava. No entanto, como articular sua produção de pintura figurativa, que de certa forma o acompanha ao longo da vida (dos carnavais do início, às fotomontagens e máscaras, aos desenhos do final da vida - novos carnavais), à rigorosa abstração, mais conhecida em seus azulejos e relevos, presentes também nas suas pinturas? Ao colocá-los em vizinhança, começa-se a perceber os exercícios de cor e composição que o acompanham ao longo de toda obra. Esses criam um vocabulário próprio do artista que migra de uma experiência à outra. Isso me parece que aponta para a postura do artista já assumida em tempos de separações reais entre linguagens e técnicas. Esses recortes nos apresentam um artista preocupado com a pesquisa e atento ao que se está produzindo. Talvez, para mim, tenham um interesse um pouco diferenciado do conjunto - embora integradas a ele, sem dúvida -, as séries das Máscaras (É tudo falso) e das fotomontagens (Devaneios em Branco e Preto). Expostas em duas pequenas salas, elas justamente chamam a atenção para certa produção que explora determinados elementos específicos e que parecem revelar um interesse do artista em relação às experiências que se realizam no mundo da arte, o que mostra uma permeabilidade e, ao mesmo tempo, um sentido de herança "antropofágica" que assimila e deglute influências, produzindo algo novo. A versatilidade de Athos está ligada indelevelmente a uma atitude investigadora e a uma crença real no sentido coletivo da criação estética, o que não é pouco para um artista formado sob a égide do modernismo.

ANFACER: Qual o critério de montagem da exposição? Qual o trajeto mais interessante para que os visitantes possam ter uma real dimensão da importância de Athos Bulcão para a história da arte brasileira? O que o visitante precisa ficar mais atento?



foto: Diego Bresani

Marília Panitz: Desenhamos a exposição em um trabalho conjunto de curadoria e expografia realizado por José Caetano Xavier de Albuquerque. A ideia principal foi pensada no espaço de Brasília (do CCBB em Brasília, onde a exposição iniciou e em seguida partiu para outras cidades). Assim tínhamos uma sequência (não necessariamente temporal) de Núcleos que exploravam, de certa forma, o que foi se agregando à obra do artista ao longo do tempo. Isso, porém, vinha pontuado pelos projetos de Relevos Acústicos de Athos, um acervo grande, mas pouco conhecidos, visto que são produzidos para espaços fechados. Nós os recriamos em escala. Assim, propomos relações que foram se confirmando ao longo da pesquisa, como é o caso do primeiro núcleo, A Cor da Fantasia, que une, em uma ideia de festa como momento não ordinário da vida das pessoas, as pinturas profanas e sagradas do artista, cuja paleta e composição tem uma semelhança incrível (e há de se lembrar que Athos era um católico praticante... e um carnavalesco de berço). O último núcleo Rastros de Athos, onde colocamos a conversa entre a obra de Athos e as dos artistas contemporâneos que reconhecem sua influência, parece ser, na montagem de Brasília, da forma como foi organizada, a demonstração de que o centenário de Athos aponta para muitos desdobramentos à frente. Isso claro, implicava um certo percurso que se aproximava minimamente de uma proposta retrospectiva.

Quando começamos a trabalhar no CCBB de Belo Horizonte, com seu percurso circular (determinado pela arquitetura do prédio) e depois em São Paulo com a verticalização e espaços menores, percebemos a possibilidade de outras sequências de Núcleos, que nos pareceram interessantes e bastante lógicas para o visitante. Portanto, a mostra não exige um determinado percurso, mas o sugere, a partir dos Núcleos marcados por fotos do artista em ação e trechos de sua fala. Mas mantém sua coerência e inteligibilidade se a escolha do visitante for outra.


ANFACER: Depois de São Paulo, a exposição segue para outras cidades? Qual o roteiro?
Marília Panitz: A exposição “100 Anos de Athos Bulcão” começou por Brasília, passou por Belo Horizonte, está em São Paulo  (até 15 de outubro) e a próxima parada é o Rio de Janeiro, de 6 de novembro a 28 de janeiro de 2019.

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Publicado em

14/9/2018

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A artista carioca completaria 100 anos em 2018. E para comemorar a data em grande estilo, o CCBB realiza uma retrospectiva imperdível, que vai até o dia 15 de outubro, para quem deseja conhecer o universo de um dos pintores, escultores e azulejista mais importantes da história recente brasileira.

A exposição “100 Anos de Athos Bulcão” revela mais de 300 obras divididas em oito núcleos, que passeiam pelo uso das cores e da poesia e enfatiza a sua íntima relação com a pintura figurativa, o trabalho gráfico e os figurinos que realizou para peças teatrais.

foto: Vicente de Mello

A ANFACER entrevistou Marília Panitz, curadora, que assina o trabalho com André Severo. Professora da Universidade de Brasília, Marília já dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília e, atualmente, trabalha como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições, além de ser crítica de arte e curadora independente.



Já André Severo, com seu vasto currículo foi, em 2012, ao lado de Luis Pérez-Oramas, curador da XXX Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas e publicou o livro Deriva de sentidos. Em 2013, também com o mesmo parceiro, foi responsável pela curadoria da representação brasileira na 55ª Bienal de Veneza.

Juntos eles se debruçaram por um acervo rico em referências e repleto de possibilidades. No pingue-pongue rápido que a ANFACER realizou com a curadora Marília Panitz, a curadora revela detalhes e os bastidores da exposição. Confira!

ANFACER: A exposição está bem rica e apresenta praticamente um raio-x sobre as diversas habilidades de Athos Bulcão: da pintura do início da carreira aos azulejos que o tornaram famoso. Qual o critério de escolha das obras para a exposição diante de tantas possibilidades e um acervo tão vasto? Acredito que motivos não faltaram para dispersões e mudanças de rumo durante o processo.

Marília Panitz: A ideia da curadoria, desde o início do processo, era dar visibilidade à abrangência da obra de Athos que é, sem dúvida, um artista muito conhecido em Brasília. Mas e no País, como seria, já que a exposição seria itinerante por mais outras cidades? Claro que há o seu trabalho de integração entre arte e arquitetura, que tornou-se conhecido tanto pela qualidade e pela inovação, mas especialmente na utilização do azulejo e por suas parcerias - em especial Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima, o Lelé. Mas um artista com uma obra tão diversa e tão coerente precisaria de uma mostra que, a partir do conhecido, apresentasse outros campos nos quais ele se experimentou e a influência que ele exerceu sobre artistas mais jovens que puderam compreender sua proposta. Por outro lado queríamos, de certa forma, "deixar Athos falar" e assim, utilizamos como "partitura" para a exposição, uma grande entrevista que ele deu, quando completou 80 anos, para a jornalista Carmen Morethzon: "O passageiro do silêncio em Brasilia".



foto: Vicente de Mello

ANFACER: O que mais a encanta diante da obra de Bulcão? O que mexe e emociona, levando-se em consideração que obra do artista é vasta e apresenta uma versatilidade e inquietação de Athos em não se concentrar apenas em um produto. Como você avalia essa versatilidade criativa?

Marília Panitz: Penso que o que mais me encanta não é uma obra em particular, mas a articulação que o artista fazia entre os campos que explorava. No entanto, como articular sua produção de pintura figurativa, que de certa forma o acompanha ao longo da vida (dos carnavais do início, às fotomontagens e máscaras, aos desenhos do final da vida - novos carnavais), à rigorosa abstração, mais conhecida em seus azulejos e relevos, presentes também nas suas pinturas? Ao colocá-los em vizinhança, começa-se a perceber os exercícios de cor e composição que o acompanham ao longo de toda obra. Esses criam um vocabulário próprio do artista que migra de uma experiência à outra. Isso me parece que aponta para a postura do artista já assumida em tempos de separações reais entre linguagens e técnicas. Esses recortes nos apresentam um artista preocupado com a pesquisa e atento ao que se está produzindo. Talvez, para mim, tenham um interesse um pouco diferenciado do conjunto - embora integradas a ele, sem dúvida -, as séries das Máscaras (É tudo falso) e das fotomontagens (Devaneios em Branco e Preto). Expostas em duas pequenas salas, elas justamente chamam a atenção para certa produção que explora determinados elementos específicos e que parecem revelar um interesse do artista em relação às experiências que se realizam no mundo da arte, o que mostra uma permeabilidade e, ao mesmo tempo, um sentido de herança "antropofágica" que assimila e deglute influências, produzindo algo novo. A versatilidade de Athos está ligada indelevelmente a uma atitude investigadora e a uma crença real no sentido coletivo da criação estética, o que não é pouco para um artista formado sob a égide do modernismo.

ANFACER: Qual o critério de montagem da exposição? Qual o trajeto mais interessante para que os visitantes possam ter uma real dimensão da importância de Athos Bulcão para a história da arte brasileira? O que o visitante precisa ficar mais atento?



foto: Diego Bresani

Marília Panitz: Desenhamos a exposição em um trabalho conjunto de curadoria e expografia realizado por José Caetano Xavier de Albuquerque. A ideia principal foi pensada no espaço de Brasília (do CCBB em Brasília, onde a exposição iniciou e em seguida partiu para outras cidades). Assim tínhamos uma sequência (não necessariamente temporal) de Núcleos que exploravam, de certa forma, o que foi se agregando à obra do artista ao longo do tempo. Isso, porém, vinha pontuado pelos projetos de Relevos Acústicos de Athos, um acervo grande, mas pouco conhecidos, visto que são produzidos para espaços fechados. Nós os recriamos em escala. Assim, propomos relações que foram se confirmando ao longo da pesquisa, como é o caso do primeiro núcleo, A Cor da Fantasia, que une, em uma ideia de festa como momento não ordinário da vida das pessoas, as pinturas profanas e sagradas do artista, cuja paleta e composição tem uma semelhança incrível (e há de se lembrar que Athos era um católico praticante... e um carnavalesco de berço). O último núcleo Rastros de Athos, onde colocamos a conversa entre a obra de Athos e as dos artistas contemporâneos que reconhecem sua influência, parece ser, na montagem de Brasília, da forma como foi organizada, a demonstração de que o centenário de Athos aponta para muitos desdobramentos à frente. Isso claro, implicava um certo percurso que se aproximava minimamente de uma proposta retrospectiva.

Quando começamos a trabalhar no CCBB de Belo Horizonte, com seu percurso circular (determinado pela arquitetura do prédio) e depois em São Paulo com a verticalização e espaços menores, percebemos a possibilidade de outras sequências de Núcleos, que nos pareceram interessantes e bastante lógicas para o visitante. Portanto, a mostra não exige um determinado percurso, mas o sugere, a partir dos Núcleos marcados por fotos do artista em ação e trechos de sua fala. Mas mantém sua coerência e inteligibilidade se a escolha do visitante for outra.


ANFACER: Depois de São Paulo, a exposição segue para outras cidades? Qual o roteiro?
Marília Panitz: A exposição “100 Anos de Athos Bulcão” começou por Brasília, passou por Belo Horizonte, está em São Paulo  (até 15 de outubro) e a próxima parada é o Rio de Janeiro, de 6 de novembro a 28 de janeiro de 2019.

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